Clara Maria C. Brum de Oliveira
Há mais de vinte séculos atrás, Platão (428-347 a.C.) afirmou que o saber não teria utilidade se não pudesse ser usado em proveito do próprio homem. No mesmo sentido, Aristóteles (384-322 a.C.) cuja influência foi uma das mais decisivas para a história das ciências, também apresentou certa angústia em relação ao pensar adequado, o pensar livre. Mas a despeito das teorias dos filósofos e das descobertas dos cientistas, quando olhamos ao redor percebemos que muitas vezes negligenciamos nossa capacidade de conhecer.
Se pensar é o oposto a servir, não se
trata aqui de um pensamento qualquer, mas de um pensar adequado, próprio da
nossa condição de sujeitos pensantes, de nossa faculdade capaz de compreender o
mundo. Inteligência que advém de intus
legere que significa “ler dentro” e
nos remete ao termo inteligível. Assim, nos ajuda a justificar o mundo exterior
através de valores que provêm do interior (intus
legere).
A tradição filosófica ao olhar para o
próprio ser humano, compreendeu a inteligência, enquanto faculdade que se
desvela em três operações fundamentais que realizamos, a saber: a apreensão que tem como objetivo
“definir”, o juízo cujo objeto é
proferir ideias verdadeiras ou falsas e o raciocínio
que tem como função estabelecer proposições ou juízos.
É justamente através da inteligência ou
espírito que podemos extrair da realidade material, corpórea, o conhecimento.
Vejamos um exemplo. Se você fechar seus olhos e pensar em alguém, você estará
extraindo do mundo dos fenômenos, da aparência, a essência desse ser pensado,
transportando-o para o “mundo da abstração”. Esse “mundo da abstração” é o
lugar da criação de conceitos, termo derivado da palavra concepção que por sua vez significa conceber.
É
interessante notar que não estamos falando de algo fora de nosso horizonte, mas
do nosso modo de ser e agir. Normalmente, procuramos definir todas as coisas
que nossos olhos alcançam e nos sentimos confortáveis em um mundo conhecido -
ordenado. Todavia, quando somos surpreendidos pelo novo, a curiosidade ou pelo
medo, procuramos novas definições. E não é raro que as pessoas comuns busquem
conhecer, decifrar, dar sentido a tudo o que existe no mundo da vida. Gostamos
de conhecer todas as coisas que nos rodeiam. Por isso, podemos afirmar que o
mundo da vida, lugar de nossa existência concreta, é um inesgotável fornecedor
de sentidos e nos acostumamos a isso.
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