sábado, 10 de março de 2012

O que é Filosofia?



Clara Maria C. Brum de Oliveira

Há muitas respostas à pergunta “O que é filosofia?” A Filosofia pode ser vista como a produção intelectual de filósofos de formação, pode ser uma maneira de ler, pensar e se comportar diante da vida, pode ser a busca pela verdade. Podemos dizer que a filosofia tem muito a nos ensinar sobre o ser, sobre o conhecimento, pensamento e razão. Porque tem a ousadia de  colocar em risco o que para o senso comum é seguro. E, assim, acontece nas mentes daqueles que se engajam na sua trajetória. A filosofia tem muitos papéis, porque não é uma análise distante, separada da sociedade. Ao contrário, filósofos integram a cultura e suas ideias representam as angústias de cada época.

Mas a filosofia vale a pena? Qual a dificuldade da filosofia numa sociedade da tecnologia e da informação? O que a estimula?  Muitos podem dizer que é melhor deixar o fluxo normal da vida, sem ficar pensando nisso, porque não desejam se enredar na complexidade da motivação humana. São contraditórios. Por quê? Porque no momento em que nossas maneiras de ser e agir entram em conflito, quando a ciência nos oferece novos caminhos, a política nos assombra, a física destrói nossos paradigmas, um fluxo incessante de ideias invade nossas mentes e a reflexão, de maneira inevitável, encontra seu lugar. Precisamos de um conjunto de reflexões sobre quem somos e o que estamos fazendo, para, com isso, justificarmos nossas escolhas e compreendermos suas consequências.

Não importa, podemos ler Platão, Aristóteles, Epicuro, Hobbes, Rousseau, Kant, Hegel e Marx, nossa investigação não terá limites e basta uma pequena e singela mudança no mundo da vida para provocar uma nova reflexão. Não há palavra final em filosofia, o seu valor está no procedimento que estimula e não no resultado que eventualmente alcança.

A filosofia é um modo de pensar que investiga problemas historicamente construídos, ou seja, cada geração investiga seus próprios caminhos, problematiza a vida, desenvolve seu estilo e escolhe um método de abordagem que considera adequado ao objeto. Então, podemos filosofar de lugares diferentes, mas qual o lugar da filosofia? Não pensamos muito sobre isso. Ela requer condições específicas? É típica da vida urbana (polis)? O fato é que é a base teórica de todas as outras esferas de saber, porque promoveu, antes de todo mundo, uma análise abstrata e conceitual sobre o ser humano, a vida e a sociedade, propondo questões, apontando erros de julgamento, destacando a futilidade de certas concepções e desejos. 

Assim, o mais importante é mostrar que para a filosofia o conhecimento é construído  intersubjetivamente. Ela desvela que vivemos e nos relacionamos pela fala, leitura (que é uma conversação silenciosa) e escrita e essa é a nossa maneira de construir o conhecimento. Portanto, a filosofia tem um papel importante nessa construção, porque nutre as diversas áreas de saber com um pensamento sofisticado, com rigor lógico e conceitual. Acrescente-se que o saber também precisa da escuta. É preciso saber escutar, mas não de maneira passiva e sim crítica. A filosofia é essencialmente crítica.

Todos os autores em filosofia observam que termo “Filosofia” é constituído por duas palavras gregas philos e sophia e, acrescentam que o filósofo não é aquele que acredita que adquire o saber como uma aquisição contínua, mas o que busca a sabedoria, por meio de um espírito indagador. Estamos falando de uma filosofia stricto sensu, ou seja, um conhecimento específico, diferente das outras áreas de saber e que não se confunde com o senso comum, o mito,  ou  visão religiosa.  

Atribui-se a Pitágoras a criação da palavra Filosofia que significa etimologicamente amor ou amizade à sabedoria. Todavia, não se sabe o que este pensador quis dizer exatamente, mas que de um modo geral, os gregos entendiam a filosofia como um conjunto das ciências naturais e humanas que investigava a estrutura e as leis do universo. A finalidade dos filósofos era buscar a verdade, ou seja, explicar todo o universo, precursores do que se entende hoje por ciência.[1]  Conforme ensina Severo Hryniewicz, a filosofia é “uma proposta de meditação e leitura crítica da realidade. Uma tentativa de obtenção de um conhecimento global e totalizante do homem no mundo, dentro de uma fundamentação racional”.[2]

Com esse entendimento podemos afirmar que a filosofia possui três características fundamentais, o que não afasta a possibilidade de outros pensadores apontarem outras. A filosofia é radical, porque tem interesse em investigar os fundamentos que estão presentes no objeto que está sendo investigado. Ao buscar os fundamentos, a filosofia vai às origens, procura explicar a partir de conceitos, os fenômenos que investiga. Busca significados, justificativas. A filosofia é rigorosa e, esta segunda característica é muito interessante porque nos permite relacionar a filosofia com a ciência. Filosofia e ciência são saberes diferentes, esta trabalha com a experimentação, aquela com o pensamento abstrato, mas buscam o rigor do método para proceder às investigações. A filosofia nos oferece um método de análise conceitual que exige clareza e distinção, nos termos cartesianos.  A filosofia é um saber de conjunto ou totalizante porque em sua investigação não fragmenta o objeto a um único aspecto, é interdisciplinar. [3]
Como um tipo de conhecimento, é um saber que é fim em si mesmo e não precisa de outra fonte de justificação. E, neste ponto, podemos verificar a sua utilidade.  



[1] MUÑOZ, Alberto Alonso. O nascimento da filosofia. In: MACEDO Jr. (Org.). Curso de Filosofia Política. São Paulo: Atlas, 2008. p. 56.
[2] Hryniewicz,  Severo. Para filosofar hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 19. 
[3] ARANHA, M. l. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed., São Paulo: Moderna, 2003. p. 90.






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