Clara Maria C. Brum de Oliveira
Há muitas
respostas à pergunta “O que é filosofia?” A Filosofia pode ser vista como a
produção intelectual de filósofos de formação, pode ser uma maneira de ler,
pensar e se comportar diante da vida, pode ser a busca pela verdade. Podemos
dizer que a filosofia tem muito a nos ensinar sobre o ser, sobre o
conhecimento, pensamento e razão. Porque tem a ousadia de colocar em
risco o que para o senso comum é seguro. E, assim, acontece nas mentes daqueles
que se engajam na sua trajetória. A filosofia tem muitos papéis, porque não é
uma análise distante, separada da sociedade. Ao contrário, filósofos integram a
cultura e suas ideias representam as angústias de cada época.
Mas a filosofia
vale a pena? Qual a dificuldade da filosofia numa sociedade da tecnologia e da
informação? O que a estimula? Muitos podem dizer que é melhor deixar o
fluxo normal da vida, sem ficar pensando nisso, porque não desejam se enredar
na complexidade da motivação humana. São contraditórios. Por quê? Porque no
momento em que nossas maneiras de ser e agir entram em conflito, quando a
ciência nos oferece novos caminhos, a política nos assombra, a física destrói
nossos paradigmas, um fluxo incessante de ideias invade nossas mentes e a
reflexão, de maneira inevitável, encontra seu lugar. Precisamos de um conjunto
de reflexões sobre quem somos e o que estamos fazendo, para, com isso,
justificarmos nossas escolhas e compreendermos suas consequências.
Não importa,
podemos ler Platão, Aristóteles, Epicuro, Hobbes, Rousseau, Kant, Hegel e Marx,
nossa investigação não terá limites e basta uma pequena e singela mudança no
mundo da vida para provocar uma nova reflexão. Não há palavra final em
filosofia, o seu valor está no procedimento que estimula e não no resultado que
eventualmente alcança.
A filosofia é um
modo de pensar que investiga problemas historicamente construídos, ou seja,
cada geração investiga seus próprios caminhos, problematiza a vida, desenvolve
seu estilo e escolhe um método de abordagem que considera adequado ao objeto.
Então, podemos filosofar de lugares diferentes, mas qual o lugar da filosofia?
Não pensamos muito sobre isso. Ela requer condições específicas? É típica da
vida urbana (polis)? O fato é que é a base teórica de todas as outras esferas
de saber, porque promoveu, antes de todo mundo, uma análise abstrata e
conceitual sobre o ser humano, a vida e a sociedade, propondo questões,
apontando erros de julgamento, destacando a futilidade de certas concepções e
desejos.
Assim, o mais
importante é mostrar que para a filosofia o conhecimento é construído
intersubjetivamente. Ela desvela que vivemos e nos relacionamos pela fala,
leitura (que é uma conversação silenciosa) e escrita e essa é a nossa maneira
de construir o conhecimento. Portanto, a filosofia tem um papel importante
nessa construção, porque nutre as diversas áreas de saber com um pensamento
sofisticado, com rigor lógico e conceitual. Acrescente-se que o saber também
precisa da escuta. É preciso saber escutar, mas não de maneira passiva e sim
crítica. A filosofia é essencialmente crítica.
Todos os autores
em filosofia observam que termo “Filosofia” é constituído por duas palavras
gregas philos e sophia e, acrescentam que o filósofo não é
aquele que acredita que adquire o saber como uma aquisição contínua, mas o que
busca a sabedoria, por meio de um espírito indagador. Estamos falando de uma
filosofia stricto sensu, ou seja, um conhecimento específico, diferente
das outras áreas de saber e que não se confunde com o senso comum, o mito,
ou visão religiosa.
Atribui-se a
Pitágoras a criação da palavra Filosofia que significa etimologicamente amor ou
amizade à sabedoria. Todavia, não se sabe o que este pensador quis dizer
exatamente, mas que de um modo geral, os gregos entendiam a filosofia como um
conjunto das ciências naturais e humanas que investigava a estrutura e as leis
do universo. A finalidade dos filósofos era buscar a verdade, ou seja, explicar
todo o universo, precursores do que se entende hoje por ciência.[1] Conforme
ensina Severo Hryniewicz, a filosofia é “uma proposta de meditação e leitura
crítica da realidade. Uma tentativa de obtenção de um conhecimento global e
totalizante do homem no mundo, dentro de uma fundamentação racional”.[2]
Com esse
entendimento podemos afirmar que a filosofia possui três características
fundamentais, o que não afasta a possibilidade de outros pensadores apontarem
outras. A filosofia é radical, porque tem interesse em investigar os
fundamentos que estão presentes no objeto que está sendo investigado. Ao buscar
os fundamentos, a filosofia vai às origens, procura explicar a partir de
conceitos, os fenômenos que investiga. Busca significados, justificativas. A
filosofia é rigorosa e, esta segunda característica é muito interessante porque
nos permite relacionar a filosofia com a ciência. Filosofia e ciência são
saberes diferentes, esta trabalha com a experimentação, aquela com o pensamento
abstrato, mas buscam o rigor do método para proceder às investigações. A
filosofia nos oferece um método de análise conceitual que exige clareza e
distinção, nos termos cartesianos. A filosofia é um saber de conjunto ou
totalizante porque em sua investigação não fragmenta o objeto a um único
aspecto, é interdisciplinar. [3]
Como um tipo de
conhecimento, é um saber que é fim em si mesmo e não precisa de outra fonte de
justificação. E, neste ponto, podemos verificar a sua utilidade.
[1] MUÑOZ,
Alberto Alonso. O nascimento da filosofia. In: MACEDO Jr. (Org.). Curso de
Filosofia Política. São Paulo: Atlas, 2008. p. 56.
[2] Hryniewicz,
Severo. Para filosofar hoje. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.
19.
[3] ARANHA,
M. l. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed.,
São Paulo: Moderna, 2003. p. 90.
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